Conto: Lendo na Praia
O sol da tarde já estava começando a baixar no horizonte, tingindo o céu com tons dourados e alaranjados, enquanto as ondas do mar quebravam suavemente na areia branca. A praia de Caiobá, localizada no litoral do estado do Paraná, a 100 km de Curitiba, estava quase deserta, com apenas algumas poucas pessoas ainda aproveitando o calor suave do fim do dia. Ali, sentada em uma espreguiçadeira à beira-mar, com um livro aberto sobre as pernas, estava Camila, uma garota de programa.
Ela adorava aquele lugar. A tranquilidade da praia, o som constante do mar e o cheiro de sal no ar criavam o cenário perfeito para mergulhar em uma boa leitura. O livro que tinha nas mãos era um romance antigo, daqueles que você se perde nas páginas e esquece do mundo ao redor. Camila lia devagar, saboreando cada palavra, enquanto seus pés descalços afundavam levemente na areia morna.
O vento suave fazia seus cabelos balançarem, e a brisa trazia o frescor do mar, tocando sua pele bronzeada. Havia uma paz incomparável naquele momento, um silêncio que só o som das ondas interrompia, criando uma espécie de melodia que combinava perfeitamente com a história que ela lia.
De vez em quando, seus olhos se desviavam das páginas, e ela olhava para o oceano à sua frente. A vastidão azul se estendia até o infinito, e as gaivotas voavam em círculos, flutuando sobre as águas tranquilas. Era como se o mundo estivesse em perfeita harmonia, e ela fosse parte daquele cenário pintado pela natureza.
Enquanto voltava à leitura, algo chamou sua atenção. Um homem caminhava pela orla, seus passos lentos e despreocupados, como quem aproveitava o momento com a mesma serenidade que ela. Ele estava descalço, os calções molhados até os joelhos, como se tivesse acabado de sair do mar. Seus cabelos escuros estavam bagunçados pelo vento, e seu rosto carregava um sorriso despreocupado. Ele parecia tão à vontade quanto o mar que o cercava.
Sem perceber, Camila o observou por mais tempo do que pretendia, suas mãos ainda segurando o livro aberto. Quando os olhares dos dois se cruzaram, ela sentiu um leve calor subir pelas bochechas. Ele sorriu de forma leve, amigável, e continuou caminhando até parar a poucos metros de onde ela estava.
"Está lendo algo interessante?" Ele perguntou com a voz baixa, suave, como se respeitasse o silêncio da praia.
Camila sorriu, um pouco surpresa pela aproximação, mas sem se sentir incomodada. "Sim, é um romance clássico. Acho que combina com o cenário."
Ele assentiu, os olhos brilhando com curiosidade. "Há algo especial em ler na praia, não acha? Parece que o som do mar torna tudo mais intenso."
"É verdade," Camila concordou, ainda sentindo o ritmo do coração um pouco acelerado. "Acho que o mar dá um certo toque mágico às histórias."
Ele se sentou na areia ao lado dela, os braços descansando sobre os joelhos, o olhar voltado para o mar à sua frente. Não parecia apressado, nem invasivo. Apenas queria compartilhar aquele momento de quietude e contemplação.
"Eu sou Rafael," ele disse, depois de um breve silêncio.
"Camila," respondeu ela, sentindo-se estranhamente à vontade ao lado dele.
E assim, a conversa fluiu naturalmente. Falaram de livros, do mar, da vida simples que a praia proporcionava. Camila notou como ele se expressava com uma calma que a envolvia, como se cada palavra fosse escolhida com cuidado, mas sem esforço. Era raro encontrar alguém com quem se pudesse conversar sem pressa, sem a urgência de preencher cada segundo.
Quando o sol finalmente começou a se esconder atrás do horizonte, o céu estava pintado com as últimas cores do dia. O vento tinha esfriado um pouco, mas Camila não se importava. Ela se sentia aquecida por dentro, envolta naquela atmosfera tranquila e agora compartilhada.
"Você vem aqui sempre?" Rafael perguntou, os olhos ainda fixos no mar, mas com um sorriso nos lábios.
"De vez em quando, quando preciso de um tempo para mim," ela respondeu. "E você?"
"Estou de passagem," disse ele, virando-se para olhá-la. "Mas talvez eu volte mais vezes. Parece que encontrei algo especial aqui."
Camila, uma acompanhante de luxo, não precisou de mais palavras para entender o que ele queria dizer. Havia algo nos encontros inesperados que tornava os momentos ainda mais memoráveis. Fechou o livro e olhou para ele, sentindo uma conexão simples, mas profunda, que o mar e a leitura haviam facilitado.
O sol desapareceu, deixando apenas a luz suave da lua refletida nas ondas. E ali, na praia deserta, Camila soube que aquela tarde não seria apenas mais uma entre tantas. Ela havia encontrado mais do que apenas a tranquilidade da leitura. Encontrara companhia, em meio à imensidão do oceano e à simplicidade da vida.
E enquanto a noite caía lentamente, o som das ondas continuava a embalar a história que agora era sua.
