Conto: A Noite no Morro
A lua cheia iluminava o morro com um brilho prateado, lançando sombras alongadas sobre as casas humildes e os becos estreitos. O vento noturno soprava suave, mas trazia consigo uma sensação de mistério, algo no ar que fazia cada detalhe parecer mais intenso naquela noite.
Rafaela subia o morro sozinha, com o coração batendo acelerado. Ela conhecia bem aquelas ruas, crescera ali, mas havia algo diferente naquela noite. O silêncio era quebrado apenas pelo som de seus próprios passos e o eco distante de vozes abafadas que vinham das casas.
Ao longe, a festa do bar da esquina se misturava com o brilho das luzes coloridas piscando. A música alta preenchia o ar com batidas graves, chamando as pessoas que buscavam um escape do cotidiano. Rafaela olhou para o topo do morro, onde estava a velha casa abandonada que servia de refúgio para encontros furtivos, longe dos olhares curiosos do bairro.
Ela sentia uma ansiedade crescente ao pensar no que a aguardava. Havia marcado com Miguel, e o simples pensamento dele fez seu corpo vibrar. Miguel era enigmático, com seu jeito calmo e olhar penetrante que parecia ler sua alma. Desde o primeiro encontro, havia uma tensão entre eles, algo que ambos evitavam verbalizar, mas que se tornava mais forte a cada olhar trocado.
Quando Rafaela finalmente chegou à casa, o lugar parecia ainda mais sombrio à luz da lua. A porta estava entreaberta, e ela entrou, sentindo o coração bater mais rápido. Dentro, Miguel estava encostado na parede, à sua espera, com aquele sorriso de canto que sempre a deixava sem palavras.
— Achei que não vinha — ele disse, sua voz rouca cortando o silêncio.
— Não perderia por nada — respondeu ela, fechando a porta atrás de si.
O clima entre eles era elétrico, carregado de uma tensão palpável. Miguel se aproximou lentamente, seus olhos brilhando à luz fraca que entrava pela janela quebrada. Rafaela sentiu a pele arrepiar enquanto ele parava diante dela, tão próximo que ela podia sentir o calor de seu corpo, o cheiro forte de sua colônia misturado com a noite.
— A lua está bonita hoje — disse ele, olhando por um instante para fora, antes de voltar o olhar para ela. — Mas você está ainda mais.
Rafaela sorriu, sentindo o calor subir por suas bochechas. Ela nunca soube exatamente como reagir aos elogios diretos de Miguel, mas havia algo na forma como ele falava, na maneira como a olhava, que a deixava entregue.
Sem mais palavras, ele a puxou para perto, envolvendo-a em seus braços. O toque dele era firme, mas ao mesmo tempo delicado, e Rafaela não conseguiu evitar fechar os olhos, perdendo-se na sensação. Seus corpos se aproximaram ainda mais, e ela sentiu seu coração bater forte contra o peito de Miguel.
— Aqui em cima... ninguém nos vê — sussurrou ele, inclinando-se para perto de seu ouvido.
A respiração quente dele fez um arrepio percorrer sua espinha. A casa abandonada, com suas paredes antigas e estalidos ocasionais, parecia um mundo à parte, um lugar onde o tempo parava e só existiam os dois. Ele a encostou contra a parede, suas mãos explorando com intensidade, cada toque carregado de desejo.
Rafaela sentiu os lábios dele descerem pelo seu pescoço, e sua própria respiração começou a acelerar. A sensação da pele dele contra a sua era avassaladora, e a noite, antes tão fria, agora parecia fervilhar ao redor deles.
Os corpos se moviam em perfeita harmonia, e o desejo que haviam reprimido por tanto tempo finalmente explodiu. Ali, no alto do morro, sob o manto prateado da lua, Rafaela e Miguel se entregaram ao calor do momento, esquecendo o mundo lá fora.
Naquela noite, o morro foi testemunha de um encontro de paixão, onde o som distante das festas, as luzes das casas e o silêncio da madrugada se tornaram meros coadjuvantes para a intensidade que tomava conta daquele velho refúgio.