Conto: Caminhos entre Mandirituba e Curitiba
Mariana vivia em Mandirituba, uma cidade pequena e pacata, cercada por áreas verdes e o silêncio típico do interior do Paraná. Ali, no meio do campo, ela encontrava a tranquilidade que tanto prezava. As ruas simples, as casas de madeira e o ar fresco das manhãs eram uma fuga bem-vinda da vida agitada que levava em Curitiba. Mariana era uma garota de programa, uma acompanhante de luxo, que atendia clientes na capital, mas escolhia morar longe de todo o movimento e caos da cidade grande.
Seu apartamento em Mandirituba era modesto, mas aconchegante. As paredes estavam decoradas com quadros e fotografias que ela mesma tirava em suas caminhadas pelos arredores da cidade. A conexão com a natureza era algo que Mariana sempre valorizara. Mesmo vivendo entre dois mundos tão diferentes — o campo e a cidade —, ela sabia como equilibrar sua vida entre esses espaços.
Naquela tarde, após um longo banho e uma xícara de café forte, Mariana se preparava para mais uma noite de trabalho em Curitiba. O trajeto até a capital não era longo — cerca de 40 minutos de carro —, mas representava mais do que apenas uma mudança de localização. Era como se, ao cruzar a estrada que ligava Mandirituba a Curitiba, ela deixasse uma versão de si mesma para trás e assumisse outra, mais sofisticada e cheia de confiança.
No espelho, Mariana aplicava sua maquiagem com precisão, transformando o rosto que refletia a simplicidade da vida no campo em algo digno dos olhares exigentes que encontraria na noite curitibana. Seus cabelos longos, castanhos com mechas douradas, estavam soltos, caindo em ondas perfeitas sobre os ombros. Ela vestiu um elegante vestido preto, justo na medida certa, e calçou os saltos que a faziam se sentir poderosa.
Seu destino era um hotel de luxo no centro de Curitiba, onde um empresário que estava na cidade a negócios havia solicitado sua companhia para um jantar. Era um cliente novo, e Mariana sempre sentia um leve nervosismo antes de conhecer alguém pela primeira vez. Mas ela sabia que, assim que chegasse e a conversa fluísse, tudo ficaria mais fácil. Sua capacidade de se adaptar a diferentes personalidades e ambientes era o que a tornava tão bem-sucedida.
Ao dirigir pelas estradas tranquilas de Mandirituba, com os campos verdes e o céu tingido pelo pôr do sol, Mariana sentia uma paz interior. A transição para a vida agitada de Curitiba, com seus prédios altos e luzes que nunca se apagavam, sempre começava ali, naquele trecho da estrada. Ela gostava de pensar que, por alguns minutos, vivia entre dois mundos, aproveitando o melhor de ambos.
Chegando ao hotel, foi recebida com cortesia pelos funcionários, que a conheciam como uma cliente habitual. O ambiente do saguão era impecável, com mármore branco e lustres de cristal que refletiam as luzes suaves do ambiente. Ela subiu até o restaurante no terraço, onde o empresário a aguardava. Ele era um homem de meia-idade, bem vestido, com um ar confiante, mas não arrogante.
— Mariana? — ele perguntou, levantando-se e sorrindo ao vê-la se aproximar.
— Sim, muito prazer, — respondeu ela, estendendo a mão.
A noite começou com conversas leves sobre negócios e viagens, assuntos que Mariana dominava com facilidade. Embora fosse uma garota de programa, ela sempre buscava se informar sobre temas diversos, algo que lhe permitia criar conexões com seus clientes além do óbvio. O empresário, aparentemente exausto após um longo dia de reuniões, logo relaxou na presença dela. Ela percebeu que, mais do que a beleza física, ele buscava uma companhia inteligente, alguém com quem pudesse conversar de forma fluida e descontraída.
— Você mora em Curitiba? — ele perguntou, curioso, enquanto servia mais vinho para ambos.
— Na verdade, não. Moro em Mandirituba, uma cidade pequena aqui perto, — respondeu ela, sem hesitar. Mariana nunca escondia seu lugar de origem. Sabia que, para muitos de seus clientes, a ideia de uma mulher que se movia entre dois mundos era intrigante.
— Mandirituba? Não conheço. É um lugar tranquilo, imagino.
— Muito tranquilo. Gosto de viver longe da correria. Em Curitiba, tudo é rápido demais. Gosto de ter um lugar para voltar onde tudo é mais... calmo. Faz sentido? — disse ela, sorrindo levemente.
Ele assentiu, claramente interessado.
— Sim, faz todo sentido. Deve ser bom poder escapar de tudo isso de vez em quando.
A conversa fluiu por horas, entre risadas e confidências sobre as pressões do mundo dos negócios. Mariana sabia que, para ele, ela representava uma pausa no ritmo frenético que ele enfrentava diariamente. Um momento de leveza, de intimidade sem cobranças, onde ele podia ser ele mesmo, sem as máscaras que a vida profissional exigia.
Quando a noite terminou, ele a acompanhou até o lobby, despedindo-se com um beijo suave no rosto e a promessa de se encontrarem novamente na próxima vez que ele estivesse em Curitiba. Mariana observou enquanto ele desaparecia pelas portas automáticas do hotel, e, por um momento, sentiu uma estranha familiaridade com a situação. Assim como ela, ele também vivia entre dois mundos — o profissional e o pessoal, o público e o privado.
Dirigindo de volta para Mandirituba, Mariana sentia o peso da noite se dissipar à medida que as luzes da cidade grande ficavam para trás. Ao cruzar novamente a estrada, viu as estrelas brilhando no céu claro do campo. Ali, no silêncio e na tranquilidade de sua cidade, ela podia respirar profundamente e ser apenas Mariana, sem as armaduras da vida noturna.
Ela sabia que, na manhã seguinte, o sol voltaria a brilhar sobre os campos de Mandirituba, e ela estaria pronta para outra jornada entre esses dois mundos que, de uma forma ou de outra, faziam parte dela.