Conto: Ao Olhar de Jurema
O sol estava a pino, e o calor intenso fazia as sombras das árvores no pasto parecerem ainda mais acolhedoras. As vacas estavam espalhadas, ruminando preguiçosamente, aproveitando a brisa leve que soprava entre as colinas da Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba. No meio delas, Jurema, a vaca mais velha da fazenda, observava tudo com seus grandes olhos castanhos e curiosos.
Jurema estava acostumada à rotina tranquila da fazenda. Os fazendeiros passavam, os peões faziam suas rondas e, de vez em quando, algum visitante curioso aparecia para ver os animais. Mas naquela tarde, algo diferente chamou sua atenção. O silêncio habitual foi quebrado por vozes sussurradas, e seus olhos se voltaram para um ponto mais afastado do pasto, perto do celeiro.
Ela viu quando Ana, a filha do dono da fazenda, saiu apressada de casa, cruzando o campo. Embora fosse conhecida na cidade como uma acompanhante de luxo, Ana sempre mantinha a discrição e um ar reservado. Sua expressão estava marcada por uma mistura de ansiedade e expectativa, e seu vestido leve balançava conforme ela se movia, revelando mais de suas pernas bronzeadas do que ela pretendia.
Logo atrás dela, vinha Pedro, o peão que ajudava na fazenda. Ele sempre fora respeitoso e trabalhador, mas Jurema não podia deixar de notar a forma como ele olhava para Ana nos últimos tempos. Os olhos dele brilhavam quando ela estava por perto, e os sorrisos tímidos que trocavam falavam mais do que palavras. Naquele momento, a tensão entre os dois parecia ter atingido um ponto de ruptura.
Jurema continuava observando enquanto os dois se aproximavam de uma árvore solitária, longe do alcance de outros olhares curiosos. Ali, no meio do campo vasto, Ana parou, e Pedro se aproximou devagar, seus olhos presos nos dela com uma intensidade que fez o tempo parecer desacelerar. As vacas continuavam pastando, indiferentes, mas Jurema não desgrudava os olhos da cena que se desenrolava diante dela.
Ana sorriu, um sorriso tímido, mas cheio de intenções, e Pedro não resistiu mais. Ele se aproximou, suas mãos hesitantes tocando os braços dela, e o toque foi o suficiente para que ela se rendesse àquele momento. Jurema, de sua posição no pasto, continuava observando atentamente. Era como se ela soubesse que algo importante estava prestes a acontecer.
O beijo entre eles foi suave no início, mas rapidamente se tornou mais intenso. Pedro puxou Ana para mais perto, e ela envolveu seus braços ao redor do pescoço dele, entregando-se completamente. O campo, antes vasto e silencioso, parecia agora envolvê-los em um mundo à parte, onde apenas eles dois existiam. As vacas continuavam ruminando, alheias ao que acontecia ao redor, mas Jurema continuava a observar, seus grandes olhos acompanhando cada movimento.
Pedro deitou Ana suavemente sobre a grama, e o vento suave soprou ao redor deles, como se a própria natureza estivesse conspirando para aquele momento. As mãos dele deslizaram pelo corpo de Ana, descobrindo cada curva, enquanto ela suspirava baixinho, perdida na sensação de estar finalmente nos braços de alguém que desejava há tanto tempo. O som de seus sussurros se misturava ao farfalhar das folhas, e o calor do dia parecia intensificar ainda mais o que acontecia entre eles.
Jurema continuava ali, parada, seu olhar bovino preso na cena. Para ela, aquilo era apenas mais um dia na fazenda, mas havia algo na intensidade dos movimentos de Ana e Pedro que até mesmo a vaca mais velha do pasto podia sentir. A conexão entre os dois era palpável, e Jurema, com sua sabedoria silenciosa, parecia compreender que aquilo não era apenas um encontro casual.
Quando o sol começou a se pôr, lançando longas sombras sobre o campo, Ana e Pedro se levantaram, ofegantes e com os rostos corados. Eles trocaram um último olhar cúmplice, como se compartilhassem um segredo que ninguém mais poderia saber. Com um sorriso discreto, Ana ajeitou seu vestido, enquanto Pedro passava a mão pelo cabelo, tentando recuperar a compostura.
Eles caminharam de volta em silêncio, lado a lado, mas agora havia algo diferente entre eles. Jurema, com sua postura tranquila, observou enquanto os dois desapareciam no horizonte, de volta para a fazenda. O campo de repente parecia voltar ao normal, com as vacas continuando a pastar e o vento balançando as folhas das árvores.
Mas para Jurema, aquele dia ficaria marcado. Não porque entendesse o que exatamente havia acontecido, mas porque, mesmo sendo apenas uma vaca, ela sabia reconhecer quando algo importante mudava no ar. E naquele fim de tarde, algo definitivamente havia mudado.