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Conto: Entre as Sombras da Fazenda Rio Grande

Conto: Entre as Sombras da Fazenda Rio Grande

Camila acendia o último cigarro da noite na pequena varanda de seu apartamento, observando a escuridão que envolvia a Fazenda Rio Grande. O lugar tinha um ritmo próprio, diferente do centro de Curitiba, onde o brilho das luzes nunca se apagava. Ali, nas ruas silenciosas e discretas, ela se movia como uma sombra, invisível para quem não sabia onde procurar. Seu trabalho como garota de programa não era anunciado em outdoors nem nos sofisticados cafés da capital. Ela preferia a discrição e o anonimato, e Fazenda Rio Grande, com suas ruas simples e sua gente trabalhadora, era o cenário perfeito para sua vida.

Com 26 anos, Camila sabia que seu trabalho exigia muito mais do que apenas beleza. Ela era uma mulher de olhos castanhos intensos, cabelos escuros sempre bem arrumados, e um corpo que atraía olhares por onde passava. Mas havia algo além disso: a habilidade de entender seus clientes, muitos deles homens comuns, trabalhadores das fábricas e indústrias da região, que buscavam nela uma companhia que os fizesse esquecer da dureza de suas vidas cotidianas.

Naquela noite, Camila tinha um encontro marcado com Jonas, um motorista de caminhão que morava na cidade vizinha de Araucária. Ele era um cliente antigo, alguém com quem ela já tinha construído uma relação de confiança. Jonas não era rico, mas sempre a tratava com respeito. Para Camila, isso valia mais do que qualquer luxo. Suas conversas com ele eram sempre fáceis, tranquilas. Ele a fazia rir com histórias de estrada e os encontros frequentes com figuras excêntricas em seus percursos pelo Brasil.

Quando o relógio marcou 20h, Jonas chegou pontualmente, estacionando seu caminhão com cuidado em frente ao prédio. Ele saiu da cabine com seu típico boné e uma jaqueta de couro que já mostrava os sinais de desgaste do tempo. Ao ver Camila descendo as escadas, ele sorriu com aquele jeito simples que sempre a fazia se sentir à vontade.

— Camila, sempre pontual, hein? — ele brincou, abrindo a porta do passageiro para ela.

— Alguém tem que ser, já que você vive se perdendo nas estradas, — respondeu ela, com uma risada suave.

Eles dirigiram pelas ruas tranquilas de Fazenda Rio Grande, conversando sobre a vida, as viagens de Jonas e os desafios que ele enfrentava na estrada. Pararam em um bar pequeno e modesto, conhecido apenas pelos moradores locais. Ali, entre cervejas e risadas, os dois eram apenas um casal comum, sem o peso das expectativas que vinham com o trabalho de Camila.

— Sabe, Camila, sempre que venho aqui, parece que esqueço da estrada por algumas horas, — disse Jonas, enquanto terminava sua bebida.

— Talvez seja por isso que você sempre volta, — respondeu ela, brincando, mas com uma sinceridade que sabia que ele apreciava.

Depois do bar, voltaram ao apartamento dela. O prédio era simples, mas Camila o mantinha arrumado e aconchegante. Na sala, havia uma pequena televisão, alguns livros empilhados e uma planta que ela cuidava com carinho. Ali, longe dos olhares curiosos, o clima era diferente. Camila sabia que Jonas não procurava apenas prazer físico; ele buscava a sensação de pertencimento, um lugar onde pudesse ser ele mesmo sem as armaduras que usava no dia a dia.

Eles se sentaram no sofá e continuaram a conversar, agora em um tom mais suave. Jonas falou sobre a solidão da estrada, sobre como, muitas vezes, ele só tinha o rádio para lhe fazer companhia nas longas viagens entre cidades. Camila ouvia com atenção, fazendo perguntas aqui e ali, sem pressa. Ela sabia que, para ele, o tempo passado com ela era um refúgio da vida dura que levava.

— Às vezes, eu penso que a estrada é como essa vida que a gente leva, cheia de curvas e paradas inesperadas, — disse ele, olhando pela janela para as luzes distantes da cidade.

— E como você sabe que está no caminho certo? — Camila perguntou, curiosa.

— Talvez a gente nunca saiba de verdade. Mas, de vez em quando, encontra lugares como esse, pessoas como você, que fazem a viagem valer a pena, — ele respondeu, com um sorriso melancólico.

Camila sabia que Jonas tinha uma vida complicada, e que ele jamais poderia oferecer a ela mais do que aquelas noites ocasionais. Mas isso não a incomodava. Ela tinha escolhido esse caminho sabendo das suas particularidades. Para ela, o importante era o que acontecia ali, no presente, naquelas conversas e momentos que, mesmo passageiros, eram genuínos.

Quando a noite começou a se dissolver no silêncio das primeiras horas da madrugada, Jonas se despediu, prometendo voltar na próxima vez que estivesse na cidade. Camila o acompanhou até a porta, observando o caminhão se afastar pelas ruas escuras e tranquilas da Fazenda Rio Grande. Assim que ele sumiu de vista, ela voltou para dentro e apagou as luzes do apartamento.

Deitada em sua cama, ouviu o silêncio da noite lá fora. A Fazenda Rio Grande não era glamourosa como Curitiba, mas era sua casa. Ali, nas sombras discretas da cidade, ela fazia seu próprio caminho, um passo de cada vez. E, enquanto esperava a próxima ligação, sabia que, de certa forma, sua vida não era tão diferente da estrada que Jonas descrevera: cheia de encontros inesperados e momentos que, mesmo fugazes, deixavam suas marcas.

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